terça-feira, 13 de setembro de 2011

Pós-11/9: Novos e mais pesados grilhões



... E eu estava errado em achar pontos positivos nos ataques do 11 de Setembro. Estava erradíssimo em pensar que aquela brutalidade toda desencadearia perguntas e reflexões. Percebi isso alguns dias depois.

Os EUA se recusaram a entender o que havia acontecido, e o discurso de uma nova cruzada já era reverberado em todos os lugares. Era como se as mentes se recusassem a entender a Alemanha de Weimar e o III Reich e simplesmente acusassem os alemães de serem uns loucos e encerassem a questão.

Pronto. Eles são loucos, recusam nosso mundo, têm ódio da nossa liberdade e de nosso deus, o deus verdadeiro. Contra a barbárie... mais barbárie. Foi assim, recusando qualquer racionalidade, que os EUA procederam. Não buscaram perguntas pois já tinham suas respostas prontas, suas certezas absolutas desde o Mayflower.

Talvez tenha ajudado o fato do discurso neo-conservador estar no Salão Oval, mas não ajudou tanto assim. A resposta foi de costa a costa, e republicanos e democratas falavam em uníssono. É o choque e pavor, é a Guerra ao Terror.

Mas guerra ao que mesmo? A quem? Quem ou o que é o inimigo? A resposta crua: quem nós definirmos como tal (Thiago Rodrigues é contundente e preciso ao problematizar o conceito de "terrorismo").

Assim os EUA pautaram as Relações Internacionais do começo do século 21, através da Guerra ao Terror, este novo terrorismo sem rosto e sem territorialidade. Se me permitem o chavão, juntou a fome e a vontade de comer.

O discurso do mundo pós-histórico se mostrou uma farsa, e a hegemonia inconteste dos EUA estava na berlinda. Os atentados deram a desculpa que os Estados Unidos precisavam para sua nova-velha agenda interventora.

O que é melhor que um inimigo que não se vê, que foge às existências que estávamos acostumados? O que é melhor para uma agenda do medo do que um fantasma que atravessa paredes e fronteiras para nos pregar peças?

E foi justamente o que aconteceu. "Choque e pavor" foi o que a Casa Branca passou a estimular. Em todos nós, em qualquer rua ou esquina. Qualquer um poderia ser outro terrorista que tentaria, sem sucesso, abalar nossas crenças. Qualquer um é uma ameaça em potencial.

O dilema reposto pelo neo-conservadorismo, com a ajuda de (quase) todos os espectros políticos nos EUA, era do Estado de Natureza hobbesiano: a violência do fantasma do terror só pode ser controlada pela violência do Estado, e, por isso, este não pode ser limitado.

Com isso, a tal Guerra ao Terror pôde ser exportada e importada, simultaneamente. No plano externo duas guerras, invasões, estão em curso até hoje, numa matemática macabra de vidas e lucros. Mais bases militares ao redor do mundo, mais força, mais engrenagens bélicas. E não podemos nos esquecer de mais petróleo.

No plano interno, o governo Bush conseguiu poderes que fariam corar os "Luizes" franceses. Prisões arbitrárias, réus encarcerados sem acusações formais (que, portanto, não podem sequer se defender de uma acusação que desconhecem), Guantánamo e Abu Ghraib recriaram as zonas para-legais; autorizações para grampear e monitorar qualquer um. A tortura ganhou fôlego como arma estatal no eufemismo de "simulação de afogamento".

Neste processo de suspeitas generalizadas, e de controle idem, a própria humanidade se tornou "classe perigosa", nos dizeres de Agamben. A exceção se mostrou friamente como parte da regra. A busca estadunidense não foi pela paz (seja lá o que isso signifique), mas pela força bruta, pela supremacia, pela hegemonia que estava se esvaindo no fim da década de 1990.

Bush filho e seu espelho Osama Bin Laden, amigos de longa data e gêmeos em essência, engendraram e recriaram o medo. Legitimaram, assim, o novo Leviatã, para o qual corremos ao encontro de ainda mais pesados grilhões, crendo assegurar nossas liberdadades.


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