segunda-feira, 11 de julho de 2011

Veja como falar de desastres naturais em sala de aula

Precipitações, urbanismo, ocupação de encostas, divisão de renda, ecologia e moradias devem ser assunto nas aulas de geografia do País. Exemplo recente é a tragédia na Região Serrana do Rio de Janeiro
Foto: EFE


As chuvas torrenciais que assolam o Rio de Janeiro devem se prolongar durante o ano letivo. Mas não em forma de enchentes, e sim como algo a ser lembrado nas aulas de geografia e discutido em sala de aula. Porém, engana-se quem pensa que o foco deve ser sobre fatores climáticos e fenômenos naturais. Política e cidadania devem ser o centro do ensinamento, diz a pedagoga Francisca Romana Giacometti, ex-secretária de Educação de Ribeirão Preto (SP).

Precipitações, urbanismo, ocupação de encostas, divisão de renda, ecologia e moradias devem adentrar as aulas de geografia do País. Para Francisca, desastres naturais são inevitáveis, mas a vulnerabilidade da sociedade não: "Enquanto no nordeste australiano o dilúvio atingiu uma área cinco vezes maior do que o Reino Unido e deixou cerca de 20 mortos e mais de 70 pessoas desaparecidas, a região serrana carioca já contabiliza mais de 800 mortos, sem contar os desaparecidos. Ou seja, os fenômenos naturais são transformados em desastres quando encontram vulnerabilidade. Esse deve ser o eixo central sobre o qual se deve estudar as tragédias climáticas em sala de aula", afirma Francisca.

Aspectos governamentais e a parcela de culpa que o poder público está tendo na tragédia também devem ocupar o quadro-negro. O professor de geografia Rui Alcides, do cursinho Objetivo de Florianópolis (SC), acredita que se os alunos de Ensino Médio e Fundamental crescerem com esta consciência poderão se tornar cidadãos mais preparados: "Concordo muito com a ideia de ensinar os estudantes sobre a questão da construção em solo urbano, mostrando que isso é algo previsto em lei e que irregularidades podem e devem ser cobradas do governo. Hoje temos um poder que se preocupa muito em humanizar a periferia, mas que acaba construindo escolas e quadras esportivas sem respeitar o espaço urbano", afirma.

A primeira aula do ano de Ricardo Pignatelli na Escola Estadual Deolinda Maneira Severo, em Indaiatuba (SP) também irá abordar as enchentes na serra carioca. "Queira ou não, a tragédia foi democrática, pois ela atingiu tanto os mais favorecidos como os menos favorecidos. Isso prova que a questão não é a periferia que insiste em ocupar locais de risco, e sim a falta de urbanismo nessas regiões fluminenses. A culpa é de todos aqueles que autorizam o uso e a venda das encostas como moradia, sem falar na questão ambiental. Pois a mata que servia como proteção das encostas foi retirada", diz o professor de geografia que promete levar essas questões para os alunos durante o ano.

Além disso, Francisca acredita que um ponto deve ser ressaltado: a solidariedade que tomou conta da comunidade: "Fiquei admirada com a ação de pessoas que cavavam a lama à procura de soterrados, com outras que abriram suas casas para acolher desabrigados, com aqueles que subiam e desciam morros para comunicar-se com helicópteros e indicarem localidades isoladas. Essa lição de solidariedade deve ser lembrada e relembrada em vários momentos da escola. A catástrofe acontece quando não encontra uma organização que pode preveni-la ou atenuá-la, mas deixa de ser ainda mais trágica quando encontra a solidariedade materializada nas mãos de cada voluntário", conclui.

Fonte: Redação Terra.

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